Os Quatro da Candelária, série sobre história real brasileira, chega à Netflix

Os Quatro da Candelária se destaca não apenas pela coragem de revisitar um episódio trágico, mas também pela maneira sensível como conta essa história

A nova minissérie da Netflix, Os Quatro da Candelária, chega nesta quarta (30) para trazer uma nova perspectiva sobre um dos momentos mais tristes da história brasileira. Dividida em quatro episódios, a produção oferece um olhar sensível e imersivo sobre as 36 horas que antecederam a trágica Chacina da Candelária, ocorrida em 1993. 

A trama é conduzida pelo ponto de vista de quatro jovens: Douglas (Samuel Silva), Sete (Patrick Congo), Jesus (Andrei Marques) e Pipoca (Wendy Queiroz), cujas vidas nas ruas do Rio de Janeiro se entrelaçam em uma narrativa que mistura realidade, fantasia e o desejo por um futuro melhor. O diretor Luis Lomenha, junto com Márcia Faria, entrega uma obra que foge dos clichês do true crime e evita a exploração das vítimas, um caminho muitas vezes trilhado por outras produções. 

Aqui, a abordagem é diferente: a série não se limita aos fatos trágicos, mas explora também os sonhos, a resiliência e as esperanças desses personagens, além de mostrar o impacto da violência nas suas vidas. Os episódios, cada um centrado em uma dessas crianças, nos mergulham em suas lutas diárias, anseios e na magia que ainda encontram em meio à dura realidade.

É interessante como a minissérie brinca com os gêneros, flertando com o realismo fantástico sem perder a ação, a aventura e o drama que permeiam as vidas dessas crianças. O diretor Lomenha descreveu a série como uma espécie de "GoPro no olho" de cada um dos personagens, nos permitindo acompanhar de perto suas experiências mais íntimas, suas dores e sonhos interrompidos. E esse efeito é intensificado pelas escolhas visuais e narrativas que transportam o espectador para o dia a dia desses jovens.


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Os Quatro da Candelária chegou à Netflix - Foto: Netflix

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Outro ponto de destaque é a representatividade: tanto na frente quanto por trás das câmeras, a série conta com uma equipe majoritariamente negra, algo ainda raro nas produções audiovisuais brasileiras, mas extremamente necessário. As atuações são um dos pilares dessa produção. Samuel Silva, Patrick Congo, Wendy Queiroz e Andrei Marques entregam performances fortes e comoventes, que nos fazem sentir o peso e a vulnerabilidade dos seus personagens. 

É impossível não se emocionar com a jornada de cada um deles, especialmente porque a série nos coloca diante de crianças que carregam uma maturidade imposta pelas circunstâncias e, ao mesmo tempo, uma esperança genuína de um futuro diferente. A trilha sonora, composta por músicas que dialogam com a cultura e a identidade do grupo, adiciona camadas emocionais ao enredo, aproximando o público ainda mais da realidade dos personagens.

Além dos jovens protagonistas, o elenco conta com nomes consagrados como Antônio Pitanga, Leandro Firmino, Bruno Gagliasso e Péricles, todos entregando performances fortes e convincentes. E é notável como o trabalho de direção consegue equilibrar a inexperiência de alguns com a bagagem de outros, resultando em um conjunto coeso e impactante.

Os Quatro da Candelária é uma produção que se destaca não apenas pela coragem de revisitar um episódio trágico, mas também pela maneira criativa e sensível com que escolheu contar essa história. Ao fugir dos clichês do true crime e abraçar o realismo fantástico, a minissérie consegue criar uma experiência única, que vai além da simples reconstituição dos fatos. Ao final dos quatro episódios, fica claro que a minissérie é um acerto da Netflix, ao trazer uma história que não só emociona, mas também ilumina questões sociais importantes e ainda muito atuais. 

Assim, se você procura uma série que vai além dos fatos, oferecendo uma visão poética e reflexiva sobre um evento que marcou o Brasil, Os Quatro da Candelária é a escolha certa. Mas fique avisado que essa série é um mergulho em uma narrativa poderosa, repleta de nuances e repleta de sensibilidade. Uma obra que não se esquiva das dores, mas também não se esquece dos sonhos.