Stênio Garcia, aos 92 anos, está disposto a continuar atuando, mas lamenta a falta de oportunidades para atores veteranos na televisão e no cinema. Em entrevista exclusiva à revista Quem, o ator criticou o etarismo no mercado audiovisual e destacou que os autores atuais não sabem escrever para personagens mais velhos.
“Os autores novos não sabem mais escrever para as pessoas velhas, mas o Brasil é cheio de idoso. Para um idoso trabalhar, o autor tem que saber escrever para ele. Ouvi o Tarcísio Meira dizer isso e bateu fundo em mim. Os grandes autores morreram ou não estão trabalhando”, afirmou Stênio, que completa 71 anos de carreira.
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O ator também refletiu sobre as dificuldades financeiras enfrentadas por muitos profissionais da área. “Se o ator não empreende, e depende do audiovisual, que é o que paga melhor, não vive porque não tem constância. Todos os modelos de trabalho são por obra e, de repente, quando o ator é muito bom, são diárias. Não podemos nos deixar leiloar por menos do que valemos”, argumentou.
Stênio relembrou um episódio específico que o deixou desanimado com a profissão. Após gravar uma cena para a novela “Deus Salve o Rei” (2018), ele chegou em casa frustrado. “É muito difícil escolher o trabalho e contracenar com pessoas que não têm ideia do que estão fazendo ali. Não tenho pressa mais, já ganhei todos os prêmios, já fiz tudo. Contracenar com um ator que não olha no olho? Não quero. Me brocha. Quero olhar no olho e entender o que ele está pensando”, desabafou.
O veterano também criticou a falta de preparação de alguns atores atuais. “Às vezes fazíamos uma proposta de personagem e escrevíamos uma vida inteira de como ele seria no caderno. Uma vez, interpretando o Aleijadinho, amarrei a mão durante o laboratório para não a usar assim como ele, e me furei por conta do jeito que fiz. Hoje as pessoas não pesquisam mais os personagens”, completou.
Stênio reconhece que o mercado mudou, mas defende a valorização dos atores mais experientes. “Tem a internet, que é de gente nova. Tem gente que não sabe quem eu sou e tem gente que não sei quem é. Mas temos atores que conhecem um processo de criação que muitos atores jovens não conhecem. Atores que não se formaram no teatro, nas companhias de teatro, que te dá profundidade no exercício do ofício”, avaliou.
Ele destacou que muitos colegas de sua geração têm encontrado mais oportunidades no teatro. “Gosto de ver um bom trabalho. Tem colegas que estão vivendo a vida e não querem mais inventar coisas”, concluiu.