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Pesquisa revela que bebês formam lembranças desde primeiro ano de vida

Estudo publicado nesta quinta-feira (21) esclarece, após o monitoramento de mais de 20 bebês, o motivo de certas recordações ficarem inacessíveis com o tempo.

Um estudo recentemente publicado na revista Science contestou a noção de que bebês não possuem a capacidade de formar memórias. A pesquisa demonstrou que, a partir de um ano de idade, as crianças já são capazes de armazenar memórias, embora estas se tornem progressivamente inacessíveis com o avanço da idade.

O estudo sugere que o hipocampo, região cerebral responsável pela memória, ainda não se encontra completamente desenvolvido nos primeiros anos de vida. As memórias formadas durante a infância podem desaparecer ou tornar-se inacessíveis com o tempo. Através da aplicação de métodos inovadores em bebês, os pesquisadores constataram que o hipocampo inicia sua participação na formação de memórias a partir do primeiro ano de vida.

Ainda não se sabe o destino dessas memórias, mas alguns pesquisadores acreditam que elas se dissipam após os três anos de idade. Nick Turk-Browne, professor de psicologia em Yale e autor sênior do estudo, expressou:

"Sempre me fascinou esse vazio misterioso que temos em nossa história pessoal".

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A partir de um ano de idade, as crianças apresentam um rápido aprendizado, desenvolvendo linguagem, habilidades motoras, reconhecimento de objetos e laços sociais. O pesquisador explicou:

"No entanto, não nos lembramos dessas experiências, o que cria um contraste entre essa incrível capacidade de aprendizado e a falta de recordações".

Sigmund Freud propôs que as memórias da primeira infância são reprimidas, uma hipótese que a ciência atual descarta. Estudos recentes apontam para o hipocampo, região cerebral crucial para a memória episódica, que ainda não está totalmente desenvolvido nos primeiros anos de vida.

Memórias desaparecidas

Pesquisas anteriores com roedores demonstraram que padrões celulares que armazenam memórias surgem no hipocampo infantil, mas se tornam inacessíveis com o tempo, embora possam ser reativados artificialmente através de estímulos luminosos nos neurônios.

O desafio consistia em observar esse processo em bebês, que não conseguem relatar memórias verbalmente e raramente permanecem imóveis o suficiente para exames de imagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI), utilizada para monitorar a atividade cerebral.

Imagem bebes-memorias
Um bebê engatinhando e outro bebê sentado | Reprodução: Canva

Estudo inovador

Para contornar essa dificuldade, a equipe de Turk-Browne desenvolveu estratégias inovadoras, como o uso de chupetas, cobertores e padrões visuais psicodélicos, para manter os bebês calmos e engajados. Apesar disso, muitas imagens foram descartadas devido aos movimentos inevitáveis dos bebês.

Um total de 26 bebês participaram do estudo, metade com menos de um ano e a outra metade com mais de um ano. Os bebês foram expostos a imagens de rostos, cenários e objetos, e posteriormente testados para avaliar o reconhecimento de imagens vistas anteriormente.

Os resultados demonstraram que o hipocampo já participa do armazenamento de memórias a partir de um ano de idade. Entre os bebês com mais de um ano, 11 dos 13 apresentaram atividade cerebral associada à formação de lembranças.

Memórias esquecidas ou inacessíveis?

O destino dessas primeiras memórias ainda é objeto de debate entre os pesquisadores. Elas podem nunca ser consolidadas a longo prazo ou apenas se tornarem inacessíveis com o tempo.

Turk-Browne acredita na segunda hipótese e lidera um novo estudo para avaliar se crianças reconhecem vídeos gravados de sua própria perspectiva quando bebês. Os primeiros resultados indicam que essas memórias podem persistir até os três anos de idade antes de desaparecerem.

O pesquisador demonstra particular interesse na possibilidade de que fragmentos dessas lembranças possam ser reativados em fases posteriores da vida.

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